quinta-feira, 30 de abril de 2015

17 heróis: policiais se negam a bater em professor, são presos e dão lição


Quem disse que os porteiros de Auschwitz não tinham escolha?


Que os médicos de salas de tortura não poderiam se recusar a estar ali?


Que soldados não têm chance de recorrer a objeções de consciência para não massacrar os mais fracos?


Que taxista carece do direito de se negar a rodar com o taxímetro adulterado pelo dono da frota?


Que funcionário de empresa privada e funcionário de companhia pública devem fingir que não veem assaltos ao patrimônio público?


Que jornalistas não têm como se rebelar contra a manipulação inescrupulosa de informações?


Sim, é possível dizer não.


Eis a lição dos pelo menos 17 policiais militares do Paraná que ontem disseram não à ordem de atacar milhares de professores que protestavam contra a iminente retirada de direitos seus pela Assembleia Legislativa.


A Polícia Militar informou que esses policiais foram presos por se recusar a participar do “cerco'' contra os mestres em greve.


“Cerco'' é eufemismo. Não se tratava de cercar, bem sabiam os 17.


A PM avançou contra os professores empregando cão pitbull. Um dos cachorrosmordeu um cinegrafista da Band.


Quais são os valores de uma corporação que lança pitbull contra professor e jornalista?


Atiraram com bala de borracha mirando a cabeça.


Bala de borracha pode matar, ferir gravemente, deixar sequelas.


Um chefe mandou bater com o cassetete por baixo, para evitar imagens.


Os professores só queriam assistir à sessão da Assembleia que tornaria ainda mais difícil a vida dos trabalhadores da educação.


Os PMs jogaram bombas de gás que afetaram até crianças em uma creche vizinha.


Saber que há creche ao lado e lançar gás configura selvageria imoral.


É mais digna a retirada do que maltratar criança.


Os 17 do Paraná disseram não a tudo isso.


Pobre do país que precisa de heróis é uma boa tirada, mas circunscrita a circunstâncias.


Miserável é a nação que ergue monumentos para heróis de fancaria.


Como disse noutra quadra um grande cronista, o povo urina nos heróis de pedestal.


Os 17 PMs honraram a promessa de proteger os cidadãos.


E periga serem os mais atingidos pela truculência do governo Beto Richa.


A quarta-feira sangrenta deixou centenas de professores feridos em Curitiba.


Mas também legou a lição de 17 policiais que são heróis brasileiros.

Blog do Mário Magalhães, no UOL

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