domingo, 5 de março de 2017

Resumo: Língua e gramática não são a mesma coisa

Este resumo elaborado a partir do capítulo “Língua e gramática não são a mesma coisa (p.39-52)”, do livro “Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho”, da Irandé Antunes, desmitifica a cultura difundida nas salas de aulas do país, na qual, a maioria dos professores tem ensinado de forma errônea que a língua e gramática são a mesma. Segundo a autora, a concepção de que língua e gramática são uma coisa só deriva do fato de, ingenuamente, se acreditar que a língua é constituída de um único componente: a gramática. Por essa ótica, saber uma língua equivale a saber sua gramática; ou, por outro lado, saber a gramática de uma língua equivale dominar totalmente essa língua. É o que revela, por exemplo, na fala das pessoas quando dizem que “alguém não sabe falar”. Na verdade, essas pessoas estão querendo dizer que esse alguém “não sabe falar de acordo com a gramática da suposta norma culta”. Nessa mesma língua de raciocínio, consolida-se a crença de que o estudo de uma língua é o estudo de sua gramática.

Antunes salienta que a língua, por ser uma atividade interativa, direcionada para a comunicação social, supõe outros componentes além da gramática, todos, relevantes, cada um construtivo à sua maneira e em interação com outros. De maneira que uma língua é uma entidade complexa, um conjunto de subsistemas que se integram e interdependem irremediavelmente. Citando como exemplo o léxico. Este inclui o conjunto de palavras, ou, em termos mais correntes, o vocabulário da língua. Incluindo ainda, a gramática, que é composta das regras para construir palavras e sentenças da língua. Desta forma, a língua apresenta mais de um componente (léxico e gramática) e seu uso está sujeito a diferentes tipos de regras e normas (regras de textualização e normas sociais de atuação). Restringir-se, pois, à sua gramática é limitar-se a um de seus componentes apenas. É perder de vista sua totalidade e falsear a compreensão de suas múltiplas determinações. 

Por esse conjunto de considerações, fica claro que a gramática da língua tem funções. A ela cabe especificar, desde a formação de palavras até a formação de frases, determinando quais combinações de palavras impostas ou opcionais, qual a ordem possível para cada função dos termos. No entanto, se a gramática tem essa função reguladora, tem também limites. Ou seja, a gramática regula, mas não regula tudo. Porque muitas das normas que definem o uso adequado e relevante da linguagem extrapolam seu conjunto de regras. Logo, para ser eficaz comunicativamente, não basta, portanto, saber apenas as regras específicas da gramática, das diferentes classes de palavras, suas flexões, suas combinações possíveis, a ordem de sua colocação, seus casos de concordância, entre outras. Tudo isso é necessário, mas não é suficiente. 

A escritora acrescenta que, ingenuamente, a gramática foi posta num pedestal e se atribuiu a ela um papel quase de onipotência frente aquilo que precisamos saber para enfrentar os desafios de uma interação eficaz. E daí vieram as distorções: a fixação no estudo da gramática, como se ela bastasse, como se nela mais fosse necessário para ser eficaz nas atividades de linguagem verbal. Porém, numa perspectiva da língua como atividade sociointerativa, essa suposição é insustentável. Vale acrescentar, portanto, que, se língua e gramática não se equivalem, muito menos se equivalem língua e gramática normativa, pois esta corresponde apenas a uma parte daquela gramática base internalizada por todo falante. 

Uma língua, além de uma gramática, tem um léxico, quer dizer, um conjunto relativamente extenso de palavras, à disposição dos falantes, as quais constituem as unidades de base com que construímos o sentido de nossos enunciados. Sendo assim, é fundamental, tanto quanto a gramática de uma língua, é seu léxico. Nele estão expressas, para cada época, as marcas das visões de mundo que os falantes alimentam, ou os traços que indicam seus ângulos de percepções das coisas. Desta forma, ganha sentido afirmar que o léxico é mais do que uma lista de palavras à disposição dos falantes. É mais do que um repertório de unidades. É um depositário dos recortes com que cada comunidade vê o mundo, as coisas que a cercam, o sentido de tudo. Por isso é que o léxico expressa, magistralmente, a função da língua como elemento que confere às pessoas identidade: como indivíduo e como membro pertencente a um grupo. Ou seja, não tem cabimento considerar que a gramática é a língua, ou que toda língua é constituída apenas de gramática. 

Esse equívoco persiste e tem submetido a escola a um tratamento da língua excessivamente centrado em definições, classificações e exercícios em torno das classes gramaticais. Comprova-se, assim, a relevância do que agora sintetizo como expressão desse primeiro equívoco: língua e gramática não se equivalem e, por isso, o ensino de línguas não pode constituir-se apenas de lições de gramática. 

Se aceitarmos que a língua se constitui muito mais do que apenas de uma gramática, é natural que nos interessemos também por descobrir, por analisar, com igual empenho: primeiro, questões relativas a seu léxico; segundo, questões relativas à sua realização em textos; terceiro, questões relativas às condições sociais da produção e da circulação desses textos. 

A autora enfatiza que no tocante a competência comunicativa, todo usuário precisa saber que ideias, informações ou dados podem ser supostos com já sabidos, em função disso, não dizer nem mais nem menos do que precisa ser dito. É importante que nem se caia em obviedade nem se deixe dizer o que é imprescindível ser dito. 

Para Irandé, o problema central dos cursos de línguas- materna e estrangeiras- está longe de ser não ensinar gramática. É, antes, não ensinar apenas gramática; e, muito mais, é não ensinar apenas nomenclatura e classificação gramatical. Portanto, não se está propondo menos. Pelo contrário, se está pretendendo muito mais. Porque, em geral, pouco se explica na escola o conjunto de normas textuais e sociais de uso da língua. Isto é, muito pouco se mostra “como tal coisa deve ou pode ser dita” e em que situação. Não se pode esperar que o falante descubra sozinho um conjunto tão complexo e tão heterogêneo de regras e normas, que, ainda por cima, admitem toda flexibilidade permitida pela natureza eminentemente funcional da língua. 

Irandé Antunes conclui o capitulo sintetizando os equívocos que as pessoas comentem quando transmitem o ensino da língua e da gramática como sendo um só. Porque a gramática, sozinha, é incapaz de preencher as necessidades interacionais de quem fala, escuta, lê ou escreve textos.

Referências 

ANTUNES, Irandé. Muito Além da Gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São Paulo: Parábola Editorial, 2007. 

Texto resumido pelo acadêmico : Leandro do Nascimento do Sousa

Curso de Letras Vernáculo da Universidade Federal do Acre

Orientador: Prof. Esp. Dienes Lima 





















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