domingo, 13 de outubro de 2013

A bomba e o tranque, por Gaudêncio Torquato


Que se anote na agenda das mutações tupiniquins. A bomba da primavera de 2013 pode ser o traque do verão de 2014. A hipótese é bastante sustentável na esfera da política. Quem diria que a sonhática Maria Osmarina Silva de Lima, Marina, 55, ex-seringueira e ex-senadora do Acre, se uniria em aliança política com o pragmático e garboso governador de Pernambuco, Eduardo Henrique Accioly Campos, 48, comandante do PSB, para lutarem juntos pela cadeira presidencial no pleito do próximo ano?


O sonho de Marina é depurar as práticas da velha política, banhando-as nas águas da ética, ou, em seus termos, “assumir responsabilidades com a sustentabilidade política, social, ambiental e cultural”.

O pragmatismo de Campos tem como ideia “aposentar um bocado de raposas que estão enchendo a paciência do povo brasileiro para o Brasil seguir em frente”. A propósito, o governador, tempos atrás, já confessara a este escriba a meta de reunir no mesmo espaço “o grupo pós 64” (citando Aécio, Kassab, Ciro e Cid Gomes, entre outros), assumir o comando da Nação e dar adeus aos guerreiros da velha guarda.

A fome moral da líder da Rede Sustentabilidade e a vontade do neto de Arraes de presidir a mesa dos comensais do poder produziram o artefato de maior repercussão neste ciclo pré-eleitoral.

Como é costume no balcão de nossos produtos políticos, as dobraduras da engrenagem deixam de ser examinadas de maneira a mostrar se estão ajustadas ou mesmo se faltam parafusos para dar lugar ao “feito extraordinário”, que, à primeira leitura, induz à convicção de que a parceria entre ambos abre um rombo nos costados da candidatura governista.

Nem se atenta para o fato de que o elo entre Marina e Campos, à luz da racionalidade, não é tão resistente como aparenta. Basta lembrar a posição da bancada do PSB, que se alinhou em peso aos ruralistas na votação sobre o Código Florestal.

Nem o látex da seringueira, que Marina extraía em sua adolescência, é capaz de emprestar firmeza a essa liga. Que só se justifica em função das composições franksteinianas que a política nesses trópicos é capaz de produzir.

Façamos uma leitura dos fatores - alguns de fundo sócio-cultural – que embasam as práticas eleitorais. A começar pela cultura de votação. O candidato prevalece sobre os partidos. Há casos em que as organizações predominam e avançam sobre os perfis pessoais. Isso ocorre nos espaços em que a polarização entre elas é muito aguda.

PT e PSDB, por exemplo, em algumas regiões formam batalhões em seus campos de guerra. Ou, ainda, é o caso de siglas de caráter religioso (principalmente as patrocinadas por credos e Igrejas) e aquelas que ocupam as extremidades do arco ideológico, cujo discurso radical é seletivo, afastando as massas eleitorais (PCO, PSTU etc). Sob a ordem de um sistema cognitivo que tende a privilegiar perfis pessoais, transferir votos constitui operação de difícil viabilização.

Leia a íntegra em A bomba e o tranque

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político e de comunicação. Twitter: @gaudtorquato

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