A política é uma das mais complexas ciências da humanidade, por buscar compreender a diversidade de pensamentos entre as pessoas, organizações, tendências, mobilizações e ainda conviver com a chamada “conjuntura” que muda constantemente, levando as pessoas até a mudar de agremiação ou mesmo de posição.
Iniciada a Redemocratização, criamos a Frente Popular do Acre em 1990, com base na Frente Brasil Popular que organizou a campanha de Lula à presidência do Brasil em 1989. O PT do Acre contava com três correntes internas (tendências): a) Articulação, liderada por Nilson Mourão; b) Nova Esquerda, liderada por Marina Silva e c) Corrente O Trabalho, liderada por Antonio Manoel. Para preparar o PT e a candidatura de Jorge Viana ao governo do Estado, a Articulação e a Nova Esquerda firmaram um pacto de unidade interna e desta, a aliança com o PC do B, o PSB, e o PV, chegando ao segundo turno e elegendo três deputados estaduais: Marina Silva e Nilson Mourão (PT) e Sérgio Taboada (PC do B).
Entre as altas e baixas, erros e acertos, ganhamos experiência em administrações públicas nos municípios e no Estado; ganhamos muitos militantes e perdemos outros muitos valiosos; criamos e consolidamos nossa identidade e várias lideranças de massa; elaboramos e apresentamos uma proposta de projeto político, econômico, social ao povo; enfrentamos o narcotráfico e a baixa auto-estima da sociedade; entramos na política nacional e enfrentamos o atraso nas diversas áreas. Estas sem dúvida são marcas de uma construção coletiva que já dura vinte e um anos.
O quadro econômico do Acre era desanimador, pois a produção estava mais para a subsistência e de forma predatória; o emprego era apenas no serviço público e de forma clientelista; o servidor público era empurrado ao calote involuntário devido o atraso em seus salários; o campesinato era expulso de suas localidades com violência e morte; as cidades pareciam campos de concentração, sujas e depredadas; o ensino estava em último lugar e por fim, havia medo e desesperança.
Os dois governos de Jorge Viana foram marcados pelo “tudo a fazer” e “fazer de tudo”. O governo Binho Marques avançou em alguns aperfeiçoamentos, especialmente na educação e agora o governo de Tião Viana tem como grande desafio avançar no setor produtivo. Ao falar em setor produtivo, precisamos garantir as bases deste processo: rodovias asfaltadas, energia elétrica, aeroportos, cidades limpas e embelezadas, planejamento, tributação adequada, formação profissional, ordenamento territorial urbano/rural, tradições culturais e etc. Basta olharmos o mapa do Acre do “antes e do depois” da FPA para se observar estas conquistas.
Na formulação de nosso projeto, renunciamos o modelo de “Rondonização tipo anos oitenta” e buscamos implementar o que chamamos de “economia de baixo carbono”, cuja tecnologia ainda é um grande desafio diante do modelo quantitativo de escala e de curto prazo. Nossa consciência nos permite a entender que nosso projeto precisa de um financiamento equilibrado e duradouro, pois apenas as receitas de transferência são insuficientes para bancar nosso desenvolvimento, assim sendo, uma meta importantíssima é garantir a nossa capacidade de endividamento em alta.
Para muitos, o resultado das eleições de 2010 mostram sinais de “cansaço” do povo com o PT/FPA dado seu quarto mandato e seus treze anos de governo consecutivo. Esta avaliação se mostra relativa e superficial da turma do “já ganhamos” ou da turma do “já perdemos”, reduzindo o debate que é histórico e de lutas em um debate eleitoral/eleitoreiro.
O PT/FPA é muito mais que apenas uma eleição, é um movimento social em curso, cujas lideranças estão acima da mesquinhez clientelista e populista. Nossa tarefa política está embasada nas transformações históricas acumuladas nas lutas sociais. Já enfrentamos situações muito mais difíceis e não arredaremos um milímetro do cumprimento de nosso papel político.
A conclusão da BR 364 e dos centros das cidades permitirá investimentos nas áreas mais pobres de nosso estado; considerando ainda a necessidade de investimento em pesquisa e inovação, expansão universitária em todos os municípios, novos cursos tecnológicos, intercâmbio, renovação da liderança empresarial e dos movimentos sociais.
Assim, a principal tarefa do PT/FPA/Governo Tião Viana é inovar nos espaços de criação/elaboração e debate político como também da execução das ações de governo, aproveitando e fortalecendo as experiências acumuladas pelas organizações sociais buscando sempre a inovação de processos e ações junto ao povo.
Entendemos que Partido Político foi feito para o debate, para pensar, sugerir e disputar idéias junto à sociedade. Portanto, entendemos que está no momento exato da realização do congresso da FPA para debater estes e outros temas, repensar seu formato, estrutura, estratégia, formação e escola política. O pragmatismo leva à banalização e à frieza das relações, que se for tudo igual qualquer uma serve, transformando conceitos e processos apenas numa questão de estatística e de quem está melhor nas pesquisas.
Entendemos que é importante o PT incluir no debate sobre as eleições de 2012 as considerações sobre o Pacto Federativo, o desenvolvimento e fontes de financiamento, participação popular, formação de quadros para a gestão pública, papel do Estado e política de aliança entre outros. Tais estudos fortalecerão o espírito da alta responsabilidade social e política; a questão da fidelidade; o espaço político da militância; a criação e inovação de processos e acima de tudo, a satisfação da população com nossos governos e partidos políticos.
Nossa preocupação maior reside na formação de quadros e lideranças, pensar em governar com base apenas em pesquisas de intenção de votos é desqualificar o processo e as pessoas, pois o enfrentamento, o “empate” é movimento, é política! É a emoção e a razão trabalhando juntos.
A Articulação e a Nova Esquerda iniciaram um Pacto em 1990 em torno de Jorge Viana que durou até o governo Binho Marques. Este pacto influenciou a formação da FPA e o sucesso nos processos eleitorais até 2010. Entendemos assim, que o resultado das eleições passadas nos impõe a uma nova reflexão e a um novo Pacto liderado por Tião Viana, renovando o projeto, a aliança, o governo e por fim, as eleições futuras.
Sibá Machado, Deputado Federal PT/Acre
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