segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

la vai a balsa dos derrotados



Essa foi uma semana dura para alguns parlamentares brasileiros, derrotados nas últimas eleições. Em especial para algumas figuras antológicas do Senado Federal. Um após o outro, foram subindo à tribuna de honra e proferindo seus emocionados discursos de despedida.
Alguns realmente abrem lacunas no cenário político nacional, mas a grande maioria já vai tarde. A balsa dos derrotados apitou no porto fétido do Senado Federal e já podemos ver os lenços úmidos sacudindo nas janelas. Enquanto isso, nos obscuros corredores, marmotas seguem brindando em deboche a derrota alheia. Mas não sem antes pedir um aparte para alfinetar: “Vossa Excelência nos fará falta”, ou “o nobre colega passará à história”, ou ainda “o preclaro amigo deixa aqui um grande irmão”. Que palhaçada!
Para o bem e para o mal, o Senado Federal estará diferente na próxima legislatura. Alguns deixam suas cadeiras para assumir os laureados mandatos de governador em seus estados de origem, como é o caso do goiano Marconi Perillo e do capixaba Renato Casagrande. Outros estão de malas prontas graças às retumbantes derrotas que sofreram, como o aguerrido amazonense Arthur Virgílio, e o cearense Tasso Jereissati. Há sempre o discurso de que a maioria perdeu ganhando e coisa e tal. Mas é isso: perderam a eleição e perderam suas cadeiras privilegiadas. É a vida. E se não fosse assim, Romários e Tiriricas nunca chegariam lá. É a democracia.
O ápice, o gran finale, ficou por conta da ex-presidenciável Marina Silva. Trajando um de seus conhecidos vestidos étnicos, emoldurado com um ecologicamente correto colar de coco, ela emocionou o país em um longo discurso de quase duas horas. Lembrou sua trajetória, deixou lágrimas rolarem ao falar de sua saída do PT, agradeceu ao PV e falou, falou, falou muito. O presidente da sessão, também em despedida da cadeira, senador Mão Santa, concedeu-lhe todas as escusas pelo extrapolar do tempo e parlamentares se estapearam por uma oportunidade de apartear e dar uma choradinha ao microfone no adeus à seringueira acreana que fez história na República.
E foi na História que Marina buscou suas melhores palavras. Para encerrar, foi a um fato que remonta sua primeira participação na casa, 16 anos atrás, quando subiu à tribuna e deixou sua filha caçula sentada na cadeira. O então presidente da sessão, o ex-senador sul-mato-grossense Júlio Campos, solicitou a retirada do plenário daquela criança de três anos de idade, batendo o pé que o regimento interno não permitia ali “a presença de pessoas estranhas”. Num frenético embate institucional, a menina deu muito trabalho aos seguranças, num dos mais bravos atos de desobediência civil já protagonizados no Senado Federal. Tal filha, tal mãe. Emocionou-se. Emocionou-nos. Mas era hora de ir embora.
Quis a ironia do destino e o maquiavelismo histórico que a ex-senadora Marina Silva, ao encerrar seu longo discurso à margem do poluído rio, fosse sucedida pelo “impeachado” ex-presidente Fernando Collor. Prova inconteste de que essa lenga-lenga de que é possível perder ganhando não passa de um discurso consolador do mais baixo calibre. Porque no fim, quem perde, perde. Marina, no dito popular dos acreanos aos que são derrotados nas urnas, “seguiu na balsa”. Perdeu a eleição, perdeu o mandato de senadora, perdeu a tribuna oficial para seu verbo. Os 20 milhões de votos que teve, serão devidamente arquivados pelo Tribunal Superior Eleitoral. Em seu lugar ficaram todos os Collors, Sarneys, Renans e todo azar de peixes-mortos que empobrecem e nauseabundam o legislativo brasileiro. Quem perde, perde. Perdeu Marina. Perdemos nós. E a balsa já está partindo.

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