sábado, 8 de dezembro de 2018

Cruzeiro do Sul: ESTA É MAIS UMA HISTÓRIA QUE O POVO CONTA - PARTE...ME PERDI



*Por Jairo Nolasco 

Anos 70, a cidade do Cruzeiro do Sul, respirava futebol, assim como todo o Brasil. As tardes de domingo no estádio "O Cruzeirão" era um acontecimento social, onde se rivalizavam as torcidas do Juruá, Náuas, São Cristovão, América, etc.

Eis que extraoficialmente começou a correr o boato que no próximo clássico um dos times iria apresentar um reforço sideral: nada mais, nada menos ,que um primo do REI PELÉ !

Foi um alvoroço só. O presidente do time adversário, para não ficar na desvantagem, tratou logo de emitir telégrafos a todo território nacional no afã de encontrar, quem sabe, um primo do Mané Garrincha. Como não teve retorno na empreitada, teve que contentar com um caboquim que morava lá na foz do Paraná dos Mouras como único reforço para o embate.

O prefeito, claro, não poderia deixar passar a oportunidade: mandou contratar banda para tocar machinha de carnaval no intervalo e fazer batucada de samba durante o jogo; distribuiu ingressos aos apoiadores, autorizou a emitir convite pela 'Voz dos Náuas' chamando pelo povo do 'interior', preparou discurso político para antes do início da partida e mais outras coisas do ofício.

Dia do jogo. Estádio lotado _ dizem que veio gente até de Eirunepé no Amazonas. Cheias as arquibancadas, a torcida se acomodou nas arvores mais altas à beira do estádio. Bandeiras, hinos nacional e cruzeirense, aplausos ao discurso emocionante do prefeito, aquecimento das equipes e nada do primo do Pelé.

Equipes escaladas e pousando para as fotos. Nada do primo do Pelé.

Primeiro tempo rolando. Nada do primo do Pelé. Torcida começa a ficar impaciente. Intervalo de jogo.

TEORIAS conspiratórias começam a se espalhar nas arquibancadas: 'não veio', 'pegou caganeira porque não está acostumado com nossa comida', 'foi comprado pela oposição', 'Pelé não deixou vim porque ainda é 'de menor''...

Pouco antes do início da segunda etapa e um SUJEITO COM UM POUCO MAIS DE MELANINA NA PELE vai para o aquecimento à beira do gramado. Delírio geral. Enfim, O PRIMO DO REI !! . "ECCE HOMO", gritou um seminarista que conhecia do latim. 

Recomeça o jogo. 15 minutos do segundo do tempo e nada do primo do Pelé tocar na bola. " O time dele tá nervoso", alguém justificou. Mas eis que surge, enfim, o momento mágico. Meio-de-campo, baixinho, domina com categoria a bola e a põe do chão. O primo do Pelé solicita o passe. A redonda sai macia e mansa. O primo da realeza do futebol tenta o domínio, MAS a redonda bate-lhe ESCANDALHOSAMENTE no meio da canela, espirra e sai pela linha de lado.

Silêncio sepulcral no estádio, instante que pareceu uma eternidade. Até que alguém sai do estupor coletivo e grita: " _ EU SABIA, primo do Pelé um cacete ! Esse cara aí, eu conheço ele. Serve lá no 7.º BEC ! ".

Vaia maior ainda não se ouviu no velho Cruzeirão. No dia seguinte o prefeito mandou os assessores esclarecer ao povo que tudo foi obra dos comunistas que, tentando contra seu governo, atentavam contra os bons costumes das ordeiras famílias do Juruá.

ps: Não sei se foi assim, mas é assim que o povo conta e pronto.


Graduado em Letras Inglês e Advocacia pela UFAC

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