quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Jornalista diz que FHC usou empresa para bancá-la no exterior

FHC nega e diz que enviou recursos legalmente por contas declaradas ao IR. Miriam Dutra receberia por meio de contrato fictício de trabalho.

Do G1, em São Paulo

Em entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo", a jornalista Miriam Dutra, que até 31 de dezembro do ano passado foi colaboradora da TV Globo por 35 anos, faz denúncias contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e comenta o relacionamento extraconjugal que manteve com ele entre os anos de 1985 e 1991.

Segundo Miriam disse ao jornal, a empresa Brasif Exportação e Importação, concessionária à época das lojas duty free nos aeroportos brasileiros, ajudou o ex-presidente a enviar dinheiro para ela entre 2002 e 2006.

A jornalista vive no exterior desde 1991. A transferência, segundo ela, foi feita por meio da assinatura de um contrato fictício de trabalho.

Segundo tal contrato, que a "Folha" publica, a jornalista teria de fazer análise de mercado em lojas convencionais e de duty free. Miriam admite ao jornal, porém, que jamais pisou em uma loja para trabalhar. Mesmo assim, recebia a quantia de US$ 3 mil mensais.

Miriam disse que passou a necessitar desse trabalho quando teve uma redução salarial na TV Globo, em 2002, passando a ganhar US$ 4 mil. A jornalista diz que o dinheiro que recebia da Brasif vinha do bolso do ex-presidente, que teria depositado US$ 100 mil na conta da Brasif.

Jonas Barcelos, dono da Brasif, não negou ao jornal o acerto, mas diz não se lembrar dos detalhes e pediu tempo para pesquisar.

Pela primeira vez, Miriam Dutra fala de seu filho Tomás, que, até 2011, Fernando Henrique Cardoso acreditava ser dele.

Em 2009, o ex-presidente declarou à "Folha de S.Paulo" que, naquele ano, registrou o rapaz em seu nome e que sempre cuidara dele.

Em 2011, porém, dois testes de DNA revelaram que o filho não era dele. À época, Fernando Henrique disse também à Folha que, mesmo sabendo que não era o pai biológico de Tomás, não mudaria seu relacionamento com ele. Miriam Dutra nega que Fernando Henrique tenha registrado Tomás.

Questionada pela "Folha" sobre os exames de DNA, Miriam Dutra gargalhou e disse: “É óbvio que é dele”. Questionada se o ex-presidente havia forjado o exame, ela afirmou: "Não estou afirmando nada, mas tudo me parece muito estranho. Além do mais, uma mulher sabe quem é o pai".

Na entrevista à "Folha", Miriam revela que, em 1991, decidiu por vontade própria sair do país e ir trabalhar em Portugal. Ela afirma, sem especificar o ano, que quando estava em Barcelona decidiu voltar para o Brasil, mas não lhe permitiram. Explicou que o pedido partiu de Antônio Carlos Magalhães e do filho dele Luís Eduardo Magalhães, ambos já falecidos.

Na entrevista, Miriam Dutra diz que Fernando Henrique Cardoso tem contas no exterior e pergunta por que nunca ninguém as investigou. E revela que em 2015 o ex-presidente deu a Tomás um apartamento de 200 mil euros.

FHC nega e diz que enviou recursos legalmente por contas declaradas ao IR
Em nota enviada à "Folha de S.Paulo", o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso negou que tenha utilizado a empresa Brasif S/A Exportação e Importação para enviar ao exterior recursos para a jornalista Miriam Dutra e Tomás.

Fernando Henrique afirma que mantém contas no exterior e que de fato presenteou Tomás com o apartamento mencionado por Miriam.

Acrescenta, porém, que os recursos enviados a Tomás provêm de rendas legítimas em contas legais declaradas ao Imposto de Renda.

Citou que os recursos saíram de contas no Banco do Brasil, em Nova York e Miami, do Novo Banco, em Madri, e de contas em bancos do Brasil.

Explicou que o repasse de recursos para que Tomas comprasse um apartamento foi feito por meio de transferências de sua conta bancária no Bradesco, com o conhecimento do Banco Central Brasileiro. Repetiu que, mesmo diante de dois testes de DNA negativos provando que ele não era o pai biológico de Tomás, procurou manter as mesmas relações afetivas e materiais com o Tomás.

Em nota enviada à TV Globo, o ex-presidente acrescentou que, em relação aos exames de DNA, sempre se dispôs a fazer qualquer outro teste que os interessados julgassem conveniente. Disse ainda que, após os resultados dos dois testes, continuou a pagar matrícula e sustento de Tomás em prestigiada universidade americana. Da mesma forma, doou a ele recentemente, além do apartamento, recursos para fazer os estudos de mestrado. Sobre o contrato fictício de trabalho que Miriam Dutra afirma ter assinado, Fernando Henrique disse que se trata de um contrato feito há mais de 13 anos, sobre o qual, afirma, não tem condições de se manifestar enquanto a referida empresa não fizer os esclarecimentos que considerar necessários.

Nota da TV Globo
A TV Globo não interfere na vida privada de seus colaboradores. Esclarece, porém, que jamais foi avisada por Miriam Dutra sobre o contrato fictício de trabalho e que, se informada, condenaria a prática. A emissora informa ainda que em junho de 2004 (e não em 2002) o contrato de colaboradora de Miriam Dutra foi alterado, com mudanças em suas atribuições, o que acarretou nova remuneração, tudo segundo a lei vigente no país em que trabalhava. Por último, a TV Globo jamais foi informada por Miriam Dutra sobre seu desejo de regressar ao país. Ao contrário, ela sempre manifestou o interesse de permanecer no exterior. Durante os anos em que colaborou com a TV Globo, Miriam Dutra sempre cumpriu suas tarefas com competência e profissionalismo

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