terça-feira, 15 de setembro de 2015

SAIRO: o tarauacaense campeão brasileiro que a bola levou para Israel

O jornal impresso de maior circulação no Acre, Opinião, trouxe na sua capa de segunda-feira,14, uma narrativa sobre a carreira futebolística do tarauacaense Sairo, o único atleta da cidade que foi campeão brasileiro. 
Através de sua habilidade com a bola, Sairo, jogou na terra Santa, Jerusalém, e Portugal, o colonizador do Brasil. 
No Acre, o atleta foi duas vezes campeão acreano e artilheiro nas duas vezes. 


Por Leandro Matthaus


Opinião.net 

SAIRO: o tarauacaense campeão brasileiro que a bola levou para Israel

Escrito Por TEXTO: FRANCISCO DANDÃO FOTOS: FRANCISCO DANDÃO E ARQUIVO REVISÃO: RESLEY SAAB

A intimidade com a redondinha não deixava dúvidas. O menino Sairo Vieira dos Santos haveria de deixar os campinhos de terra batida de Tarauacá (a 410 quilômetros de Rio Branco) para empolgar nos campos de futebol do mundo, em muito breve.

O filho do seu Jacer, definitivamente, brilharia numa sequência profissional que começou aos 15 anos, em 1989 – quando já era titular da seleção adulta de futebol da sua cidade –, até os gramados de Tel Aviv e Jerusalém, no Israel. 

Neste meio tempo, porém, o garoto foi crescendo em gramados nacionais de uma forma fenomenal. A perícia de Sairo com a pelota era tanta que ele brilhava tanto no futebol de campo quanto no de Futebol de Salão. Por isso, a primeira oportunidade de sair do interior do Acre aconteceu por meio da bola mais pesada, a de Futsal. 

Em 1992, a convite do comerciante Domingos Amaral, dono de um time de futsal chamado Piauí, o craque disputou o Campeonato Brasileiro da modalidade. E o que era de se esperar disso tudo? Bem, ele simplesmente encheu de brilho os olhos da galera.

Um ano depois, em 1993, surgiu o interesse do Rio Branco em contar com o futebol impecável de Sairo. Ele veio para a capital, a convite do diretor do Estrelão, José Macedo, para submeter-se a um período de testes. Acabou não agradando ao treinador José Aparecido Pereira dos Santos, o professor Nino. Retornou para Tarauacá e ingressou nos quadros da Polícia Militar.

O que aparentemente seria o fim de uma carreira promissora, na verdade, era apenas mais um passo rumo ao sucesso enquanto futebolista. A PM foi decisiva neste processo graças a um fã incondicional do futebol: o major Gualter Craveiro. O oficial levou o artilheiro-soldado de volta a Rio Branco, dessa vez, para atuar no Atlético Clube Juventus. E fez-se a luz nos gramados acreanos. 

O casamento bola-Sairo não poderia ser mais perfeito. O atacante jogou pelo Clube da Águia em 1995 e 1996, sagrando-se bicampeão estadual e por duas vezes artilheiro.

Aventura pelos campos do mundo
No segundo semestre de 1996, o agora reconhecido artilheiro Sairo foi emprestado ao Rio Branco pelo Juventus, para jogar a série C do Campeonato Brasileiro. Mas havia uma cláusula no acordo entre os dois clubes para a rescisão imediata do contrato do jogador, caso aparecesse alguma equipe de fora do Estado interessada em contar com o jogador.


União São João - Campeão Brasileiro da Segunda Divisão em 1996. Em pé da esquerda para a direita: Marcelo Bezerra, Nilson, Odair, Mário, Marcelo Lopes, Lica, Lico, Beto Médice e Adinan. Agachados: Souza, Célio Alcântara, Sairo, Ivonaldo, Reinaldo, Chiquinho, Borges, Vargas e Paulo César.


Ele acabou fazendo apenas um jogo pelo Rio Branco. A partida aconteceu em Rondônia, contra o Ji-Paraná. Vitória do Estrelão por 1 a 0, gol do volante Ico. 

Em seguida, por intermediação do ex-jogador juventino Pingo Zaire, que era amigo de um empresário chamado Mundinho, Sairo foi contratado pelo União São João de Araras (SP) para jogar a Série B.

Pelo time paulista, Sairo foi campeão brasileiro, marcando o gol do título, no empate por um a um contra o Náutico (PE). No primeiro semestre do ano seguinte, depois de disputar o campeonato estadual pelo União São João, a saga do jogador ganhou status de aventura internacional e ele foi parar no Israel, onde assumiria o comando do ataque do Maccabi Herzlya.

“Foi uma experiência diferente. O hebraico é uma língua muito difícil e passei um pouco de sufoco no dia a dia”, conta Sairo. 

Ele ficou uma temporada no time israelense, transferindo-se no segundo semestre de 1998 para o Futebol Clube do Maia, da segunda divisão de Portugal. 

Mas permaneceu em terras lusitanas somente até o fim do ano, tendo que voltar às pressas ao Acre para resolver a sua situação funcional na PM (ele estava licenciado e não havia mais como prorrogar a situação).

Várias camisas até o fim da carreira
Resolvida a pendência com a PM, Sairo migrou para Campinas, integrando-se ao grupo de atletas cujas carreiras eram agenciadas pelo ex-jogador Careca. Aí sobrevieram duas frustrações, materializadas pela não concretização de negócios com o São Paulo e com o japonês Kashima Antlers. Em ambas as ocasiões, Careca pediu muito alto pelo seu passe.


Atlético Clube Juventus - campeão acreano de 1996. Em pé da esquerda para a direita: Sorriso(Massagista), Carlos, Ico, Nego, Waltemir, Gualter Craveiro (Técnico), Hélio, Josmam, Jorge Cubu e tenente Messias (preparador físico). Agachados: Cezinha, Adriano Louzada, Sairo, Tinda, Ney, Marquinho, China e Jorge Luiz.


Depois de treinar por um mês em Campinas, não aguentando mais ficar parado, pediu para jogar em qualquer lugar. E aí foi parar no São Luís, de Ijuí. No segundo semestre de 1999, nova mudança. Dessa vez para o Bragantino (SP), onde disputou o campeonato brasileiro da série C. Retornou em 2000 para o Maccabi, onde sofreu grave contusão no joelho.

Para continuar jogando, Sairo teve que fazer uma cirurgia no joelho. A recuperação levou quase um ano. Só no final de 2001 é que ele pode voltar a campo. Mas já rondava a sua cabeça a ideia de parar com a bola. Mesmo assim, ainda teve tempo de vestir quatro camisas: São José (RS - 2001), Tubarão (SC - 2002), Ulbra (RS - 2002) e Juventus (AC - 2003).

Em 2004 Sairo voltou definitivamente para casa, onde tratou de constituir a própria família (ele é casado com D. Lidiane e pai das meninas Laíza, Luna e Cecília) e, algum tempo depois, tornou-se funcionário público (ele trabalha como agente penitenciário). Mas ainda teve tempo para disputar o campeonato de 2007 pelo Náuas, marcando nove gols.

Fonte: Francisco Dandão (Publicado originalmente em Futebol Acreano em Revista – Dezembro de 2014)

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