domingo, 1 de fevereiro de 2015

Tarauacá: " Não existe mar de rosas para quem faz política honesta", diz vice-prefeito Chagas Batista

O Blog Tarauacá Agora fará ao longo do primeiro semestre de 2015 uma série de entrevistas com varias personalidades políticas do Acre. O primeiro da série é o vice-prefeito de Tarauacá, Chagas Batista (PCdoB). 

Batista falará de vários temas.

Francisco das Chagas Batista Lopes, nasceu no seringal Tamandaré (alto Tarauacá), cortou seringa na infância e aos 14 anos de idade veio morar na cidade. Ingressando no Partido Comunista do Brasil (PCdoB), em 1985. Foi presidente da UMES ( União municipal dos estudantes), presidente da UMAM (União Municipal das Associações de Moradores), assessor do sindicato dos trabalhadores rurais, presidente do PCdoB de Tarauacá, Vereador por três mandatos, fundador da FPA, candidato a prefeito em 2004 e 2008, gerente da SEAPROF. Atualmente é vice-prefeito. É Filho do agricultor e seringueiro Manoel Avelino Lopes e Maria Batista Lopes, dona do lar. 

Blog: Como foi e quando que o Senhor engajousse na militância política? 

Batista: Em 1985 quando conheci o PCdoB. Momento em quê o partido ainda lutava para ser reconhecido legalmente, após 21 anos de clandestinidade, enfrentando as perseguições e atrocidades da ditadura iniciada no golpe de 64. 

Blog: o que o PCdoB representa em sua vida? 


Batista: Representa um patrimônio inegociável. É minha consciência social de homem coletivo, socialista e humanista. Foi no PCdoB que me libertei dos truques das classes dominantes, das ilusões consumistas, individualistas, do medo de falar e dizer que, acredito num novo modo de relações entre as pessoas, onde o homem seja valorizado pelo seu esforço físico e intelectual na prática do bem comum- e não por posses patrimonial e financeira. 

Blog: praticamente toda sua vida o senhor foi oposição aos governos municipais e também fez parte do movimento sindical. Agora você e seu partido compõe a gestão, como é viver o outro lado da moeda? 

Batista: É ter consciência das condições objetivas que possibilita avançar em conquistas e direitos para o povo. Reconhecer as limitações: materiais, econômicas e políticas da governança em uma coalizão com correlação de forças também limitada, com Leis e instituições constituídas para manter privilégios de quem tem o poder econômico. Dos meus 30 anos de militância política, mais de 20 foram na oposição, num período em que falar contra o poder era correr risco até de vida. Hoje vivemos uma outra situação, onde podemos fazer manifestações sem medo de ser presos, acho que dei minha contribuição pra essa mudança. Está sendo governo hoje pra mim o que muda é a tarefa. Saímos do posto de combate da oposição para o combate da realização, da geração de resultados, da responsabilidade de fazer. O cargo é fugaz, passa rápido, o mais importante são as convicções e os compromissos. No mais, é compreender que , tanto na oposição como na situação, não existe "mar de rosas", fazer política de forma honesta é um oficio e é sempre difícil. 

Blog: Recentemente a administração foi acusada pelo Sinteac de querer da um "golpe" nos trabalhadores da Educação. Como o senhor explica isso, sendo o senhor um militante sindical ? 

Batista: Essa conversa de golpe são frases prontas as pressas para mover o imaginário popular. Acho que o governo se equivocou ao enviar a Câmara uma matéria importante em regime de urgência, isso podia ter sido evitado; por outro lado, o sindicato na tentativa de mostrar serviço, produziu uma factóide do golpe. Acredito que nesse episódio ninguém ganhou, no entanto, deve servir como lição para o governo e o Sinteac. 

Blog: nas eleicões municipais de 2012 o PCdoB foi o grande vitorioso nas urnas no Acre. Conseguiu eleger dois prefeitos ( pela primeira vez no Acre) e vários vereadores. Já em 2014 o partido saiu enfraquecido, perdendo sua representante na Câmara Federal e uma vaga na Aleac- das duas que o partido tinha-. Como o senhor explica esse retrocesso?

Batista: Acredito que pode ser explicado por duas razões: Primeiro, o partido enfrentou uma conjuntura adversa do ponto de vista do projeto que levamos as ruas. Uma candidatura ao senado num momento delicado. Segundo, não podemos deixar de reconhecer que o partido não se preparou o suficiente para se precaver dos riscos da empreitada. Agora é avaliar essas e outras questões que influenciaram na redução da nossa representatividade, fazer as correções e definir novas tarefas. 

Blog: Apesar das percas do Partido no Estado, em Tarauacá, os comunistas saíram fortalecidos com a vitoria do seu sobrinho, o médico Jenilson Leite. O que esse mandato vai representar aos correlegionários de Tarauacá e Jordão? 

Batista: Representa a demonstração de vitalidade, força e representatividade que o PCdoB tem na região. Que pode servir de exemplo para a necessidade de se construir em cada município um partido numeroso, influente, ideológico e de massa. 

Blog: A FPA governa o Estado há 16 anos, mas não consegue mais de 52% dos votos nas urnas na disputa pelo Palácio Rio Branco por quê ? 

Batista: No Acre, depois de impor uma seqüência de cinco derrotas consecutivas a oposição, a Frente Popular fez em 2014, a disputa mais dura, venceu no segundo turno por uma diferença de 2% (10.000 votos). A oposição ampliou sua força no senado, ocupando duas vagas. O que podemos observar é que, as eleições no estado vem ficando cada vez mais acentuada a polarização. A disputa na capital, Rio Branco, e no vale do Juruá, o eleitorado está dividido. O chamado Vale do Acre, virou espaço majoritário da oposição. A região de maior força da FPA continua sendo Tarauacá/ Envira, que compõe os municípios de Feijó, Tarauacá e Jordão. Acho que a FPA precisa se reinventar, abrindo novos caminhos de repactuação e compromissos. 

Blog: O governo que o Senhor compõe já amargou uma rejeição de quase 90%, hoje está melhor, contudo, a fase não é tão boa. O que fazer para ganhar a credibilidade de vez da população? 

Batista: Trabalhar com honestidade, fazendo os ajustes políticos necessários, fortalecendo a unidade das forças que nos garantiram a vitória em 2012; melhorando as relações e o diálogo com os partidos, a sociedade e os movimentos sociais organizados. Creio que, não esquecendo esses elementos básicos, teremos grandes êxitos e reconhecimento da maioria da população. 

Blog: O que a população pode esperar do "Governo de Um Novo" tempo este ano? 

Batista: Estamos vivendo um momento muito delicado. Estamos vivendo a maior provação da vida social de Tarauacá. Como se não bastasse a herança maldita que herdamos nas contas e nas finanças publicas, na infraestrutura urbana e na estrutura social, agora estamos vivendo essa situação de aflição e sofrimento das enchentes causadas pelas forças da natureza. De novembro até janeiro, já enfrentamos três enchentes graves, causando seríssimos danos a estrutura da cidade. Não está sendo fácil conviver com esse fenômeno novo da natureza, trabalhamos duro para recuperar nossas ruas dos estragos causados pela enchente de Dezembro, e aí vêm novas enchentes e destrói tudo de novo. Em que pese tudo isso uma coisa posso assegurar: vamos nos empenhar o máximo para melhorar o serviço publico, com um olhar especial pra quem mais precisa, concluir as obras em andamento e muitas outras que são necessárias na humanização da nossa cidade. O ano de 2015 tem que ser um marco inicial na luta por uma cidade que cresça orientada por política de desenvolvimento urbano.

Blog: Como será possível fazer isso?

Batista: Todos nós já percebemos que o tempo mudou e as previsibilidades é continuar mudando. As enchentes dos nossos rios, agora não desabriga e causa prejuízos apenas aos moradores do sofrido povo do Bairro da Praia. Estar afetando a todos os moradores da cidade, inclusive o comércio. De quem é o problema? É apenas da administração municipal ( Prefeito, vereadores) ou de todos os Tarauacaenses? Se a resposta é a segunda, então precisa ser encarado como tal. Todos precisam entender que não se pode pensar em soluções sérias sem a colaboração de todos que podem ajudar. Não há soluções para o problema do alagamento de moradias enquanto as pessoas continuarem vendendo terras em áreas de risco. Não há soluções se as pessoas de baixa renda continuarem sendo obrigados a construir moradia em qualquer lugar, porque um metro quadrado de terra em áreas habitáveis custa uma fortuna. Mais grave é que muitas dessas terras colocadas a vendas por preços exorbitantes foram doadas pelo poder publico. Não há soluções para o problema que cada dia se agrava mais, sem uma ampla e verdadeira REFORMA URBANA. Dentro do perímetro urbano temos terras suficientes para assentar as famílias que moram em áreas de risco e para redirecionar o ordenamento e a expansão urbana. Vou dedicar todo meu esforço nesse sentido porque compreendo que cuidar dessas questões é cuidar das pessoas que mais precisam. Não há vida digna sem moradia digna. Convido todos para enfrentar esse desafio. 

Blog: Quais os planos do Senhor pra 2016? 

Batista: Os planos de 2016 será gestado e executado em 2016. A tarefa agora é procurar fazer um bom trabalho em 2015, avaliando os erros cometidos em 2014, dando mais transparências nas nossas ações publicas. Nossa cidades enfrenta muitos problemas, nosso foco deve está voltado para o enfrentamento desses problemas em 2015. Tenho também a tarefa de cuidar da vida partidária, Além de Vice-prefeito, ainda tenho a responsabilidade de presidir o PCdoB; não é fácil está no governo e dirigir um partido grande como o nosso, que foi construído ao longo de 30 anos em Tarauacá, com muito sacrifício, levantando as principais bandeiras que resultou em grandes conquistas sociais para a população de Tarauacá. 

Blog: Há alguma possibilidade do PCdoB ter candidatura própria em 2016?

Batista: Possibilidade há, o PCdoB é uma força política autônoma e influente, já disputou algumas eleições majoritária e mostrou ser uma alternativa capaz de reunir forças para governar Tarauacá, mas isso, no momento não é nossa prioridade, no momento estamos focado na defesa da unidade da FPA, com vistas no sucesso e êxito do governo do prefeito Rodrigo. 


Blog: Como tem sido a experiência de ser vice-prefeito de um jovem que tem praticamente a metade de sua idade? 

Batista: Não sou tão velho assim. Risos. A juventude e a experiência podem se complementarem se bem exercida. 

Blog: Qual sua grande referência política?

Batista: Minha Principal referencia política é sem duvida, João amazonas, o construtor e ideólogo do Partido Comunista do Brasil, revolucionário que dedicou toda sua vida pela defesa de um Brasil soberano, democrático e socialista. Tenho muita admiração também pelo o ex-presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, um brasileiro que faz diferença na história do nosso país. Tenho outras referencias que me inspiram: Guevara, Luther king e Mao Tse Tung foram revolucionários que deram grandes contribuições na luta pela igualdade. 

Blog: Na eleição o Senhor juntamente com o Prefeito Rodrigo prometia pôr fim ao toma lá dá cá entre Câmara e Prefeitura, mas ficou só no palanque, por quê? 

Batista: Eu não adoto essa política. Sou aliancista e defendo o compartilhamento dos espaços de poder, mas isso dentro de princípios que contribuam para o exercício e a defesa dos interesses publicos. 

Blog: para encerramos a entrevista faça uma avaliação dos dois anos de mandato do seu governo. 

Batista: Acho que o povo é quem deve avaliar, mas posso dizer com segurança que, mesmo chegando a administração numa conjuntura de grandes dificuldades, nunca em Tarauacá se realizou tanto em matéria de obras públicas, de políticas sociais e combate as práticas ilícitas. 

Blog: o que precisa ser melhorado? 

Batista: Melhorar é tudo. Tudo precisa evoluir de forma progressiva. Os serviços públicos, a transparência e o controle social dos gastos, o planejamento e a integração de todas as instancias administrativas. São questões indispensáveis nessa segunda etapa do nosso governo.

Blog: Iniciamos fevereiro com Tarauacá novamente debaixo de água. O prefeito tendo que baixar um novo decreto de calamidade, inclusive, teve que cancelar o carnaval. Essa situação está ficando insustentável, o que será feito para quê no próximo inverno não ocorra mais isso, ou , pelos menos venha ser amenizado? 

Batista: Dois mês após a maior enchente da história de Tarauacá que nos obrigou a decretar "estado de calamidade publica", Mais uma vez, em função das condições dramáticas que vivenciamos com novas enchentes, estamos novamente em calamidade.

Em novembro enfrentamos a primeira grande enchente que atingiu mais de 70% da população, causando incalculáveis prejuízos a população e a infraestrutura da cidade. Logo em seguida realizamos o maior esforço possível para recuperação dos danos em nossas vias. Na ocasião, investimos mais 500 toneladas de asfalto na recuperação, veios novas cheias agravando ainda mais a situação.

A luta contra as alagações em Tarauacá virou uma rotina cansativa e sofrida. Hoje, após uma criteriosa avaliação da Defesa civil municipal e estadual o prefeito Rodrigo Damasceno expediu um novo decreto. Decidiu também pela não realização do Carnaval, considerando as previsões de mais chuvas e enchentes no mês que se inicia.

Como já falei reiteradas vezes, precisamos de muita solidariedade e união. Não apenas para atender a população afetada, mas fundamentalmente para debater e apontar saídas consistentes e estruturantes para esse problema.


Por Leandro Matthaus

A entrevista foi concedida por email. 

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