Principal aliado do PT, o partido perde posições importantes a cada troca de cargos no governo federal
Mesmo com um lugar na vice-presidência da República, o PMDB diminui cada vez mais de tamanho no governo da presidenta Dilma Rousseff. Sem levar ameaças em conta, ela amplia a estratégia de tomar espaços de poder de lideranças do maior partido do País, que detém a maior bancada do Senado, a segunda maior na Câmara e o maior número de prefeitos.
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A última vítima foi o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). Há um semana ele tentava evitar a demissão de Elias Fernandes, seu afilhado político, da direção geral do Departamento Nacional de Obras contra Secas (Dnocs). Provável candidato a presidente da Câmara em 2013, Alves acabou vencido.
A próxima vítima tem tudo para ser o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL). Ele é responsável pela indicação do ex-senador Sérgio Machado na presidência da Transpetro, uma empresa estatal subsidiária da Petrobras. Com a troca de comando na Presidência da companhia de petróleo -- saiu José Sérgio Gabrielli e entrou Maria das Graças Foster - Dilma sinalizou que fará muitas mudanças na empresa.
Em entrevista ao Poder Online, Renan tratou de negar a demissão Machado, a mesma coisa que fizera Alves no caso de Fernandes, do Dnocs no sábado passado.
O aviso sem nomes
Dilma avisou o vice-presidente da República (e presidente licenciado do PMDB), Michel Temer, que mexeria nos cargos de segundo escalão. Apesar da deferência, a presidenta não adiantou quais nomes seriam trocados.
A conversa se deu na primeira reunião entre os dois no último dia 17. No mesmo encontro, Dilma adiantou a Temer que não faria mudanças nos ministérios do PMDB. Revelou ainda que escolheria um nome técnico para o Ministério da Ciência e Tecnologia, como o iG antecipou.
Peemedebistas sabem que o maior estrago será mesmo em diretorias e empresas subsidiárias da Petrobras. No Congresso, lideranças da sigla tentam evitar, pelo menos, a substituição de Sérgio Machado. Temer foi avisado que ele pode ser preservado, mas não há garantia alguma até agora.
No Dnocs, as demissões de Elias Fernandes e do diretor administrativo-financeiro Albert Gradvolh só foram o começo da reestruturação que será feita no órgão vinculado ao Ministério da Integração Nacional. O ministro da Integração, Fernando Bezerra, é do PSB e já disse que tentará promover as mudanças no Dnocs “em comum acordo com o PMDB”. A palavra final, porém, será de Dilma.
Ataque inicial
Apesar do ataque da presidente aos postos do PMDB ter se agravado mais recentemente, a desidratação teve início ainda nos primórdios do governo Dilma. Durante a transição.
Do governo Luiz Inácio Lula da Silva, o PMDB manteve as pastas de Agricultura, Minas e Energia e Defesa. Mas teve de trocar as poderosas Comunicações e Saúde por Assuntos Estratégicos, Previdência e Turismo. Nessas duas últimas, o partido foi obrigado a aceitar secretários-executivos indicados pelo Palácio do Planalto. E, ainda no Turismo, o PMDB assistiu a cobiçada Embratur cair nas mãos do PCdoB.
Formado o governo Dilma, a esperança do PMDB passou a ser retomar espaço no segundo escalão. Henrique Eduardo Alves chegou a bater de frente com o então chefe da Casa Civil, Antonio Palocci. O vice Michel Temer teve de intervir e adiar a formação do segundo escalão. Os cargos acabaram sendo ocupados a conta a gotas, sempre de acordo com a vontade do Palácio do Planalto
No fim de fevereiro, Dilma começou a minar os espaços do PMDB no setor elétrico. O primeiro alvo foi o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que detinha, desde 2007, a indicação do presidente de Furnas.
Parceiros em articulações na bancada do PMDB na Câmara, Alves e Cunha se uniram para impedir a exoneração de Carlos Nadalutti Filho, presidente de Furnas na época. Não deu certo. No dia 4 de fevereiro de 2011, Flavio Decat foi nomeado no lugar de Nadalutti. Restou a Alves dizer: “Vamos virar a página”. O iG ainda mostrou que haveria outras trocas no setor elétrico. Ao longo do ano, listas para nomeações do PMDB no segundo escalão foram encaminhadas do Congresso para a Casa Civil.
Uma delas, a que o iG teve acesso, havia 20 nomes. A lista circulou na mesma noite que foi votado o aumento do salário mínimo na Câmara, que o PMDB tentou usar como barganha por cargos. Alguns nomes o partido conseguiu emplacar, como o ex-deputado federal Geddel Vieira Lima na vice-presidência da Caixa de Pessoa Jurídica.
Comandadas por peemedebistas, as pastas da Agricutura e do Turismo foram alvo de denúncias ao longo de 2011. Ministro originário do governo Lula, Wagner Rossi (PMDB-SP) não resistiu e Dilma acabou emplacando o amigo Mendes Ribeiro (PMDB-RS) no lugar dele.
No Turismo, Pedro Novais (PMDB-MA) desgatou-se por conta de uma operação da Polícial Federal que encontrou irregularidades na pasta. Sobreviveu, mas, na sequência, descobriu-se que ele contratou no seu gabinete na Câmara uma funcionária para lhe serviços domésticos. Acabou demitido.
Para substituir Novais, o PMDB apresentou uma lista de nomes. Dilma só aceitou um, do deputado Gastão Vieira (PMDB-MA). Ele é ligado ao grupo político do senador José Sarney (PMDB-AP), um dos poucos peemedebistas com prestígio junto à presidenta.
Em 2011 o partido ainda perdeu a Defesa. Após declarar ter votado em José Serra (PSDB) em 2010, Nelson Jobim forçou sua saída do governo. Em seu lugar, assumiu o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, que é filiado ao PT.
Ainda durante a campanha de 2010, os atritos com o PMDB por cargos já existiam. Dono do Ministério das Comunicações e de postos-chave nos Correios, o PMDB perdeu diretorias da empresa estatal com o aval do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da sua candidata, Dilma.
A intervenção foi coordenada pelo então ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que, não por acaso, ganhou a pasta das Comunicações no governo Dilma.
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