quarta-feira, 25 de maio de 2011

PERPÉTUA ALMEIDA FAZ UM DISCURSO HISTÓRICO



Citando os "pequenos produtores", a Amazônia e até Irmã Dorothy, a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) defende na Câmara o novo Código Florestal. O discurso é de lascar. Os ruralistas agora aplaudem os novos aliados do ambientalista Chico Mendes.


"Sr. Presidente, colegas Parlamentares, pensei muito se subiria a esta tribuna para discutir o Código Florestal, mas quero dizer ao meus colegas e aos nobres pares que no terceiro mandato de Deputada Federal jamais poderia assistir a um debate como este, em que alguns que defendem a Amazônia como santuário da humanidade e outros que querem devastar nossa Amazônia não conseguem se entender e votar um Código que garanta a proteção de nossas florestas e, ao mesmo tempo, o desenvolvimento do País.

Eu não poderia me calar, Sr. Presidente, sabendo de onde vim e quem sou. Saí do seringal aos 14 anos, quando fui ver energia elétrica e televisão pela primeira vez. Durante muitas noites dormi ouvindo o ronco das onças e comi, às vezes, carne de macaco, quando criança para sobreviver.

Então eu não poderia ficar fora de um debate como esse, um debate que interessa aos pequenos produtores da Amazônia, aos homens e mulheres que estão passando fome na floresta porque alguns bacanas adoram defender o meio ambiente a partir do Planalto Central. Outros adoram defender o meio ambiente a partir desta tribuna. Outros até acham que defender o meio ambiente é fazer manifestações na Avenida Paulista.

Defender o meio ambiente, Sr. Presidente, é subir e descer rios nos seringais da Amazônia, é ver a situação de miséria em que vivem hoje homens e mulheres que moram no interior da nossa grande floresta, maior riqueza do Brasil. Enquanto isso, o País deixa esses pequenos produtores passarem fome.

Aliás, Sr. Presidente, hoje a proposta do Código Florestal mais condenada pelos bacanas é — o Relator, Deputado Aldo Rebelo, ouviu-me e resolveu colocar isso em seu projeto e em sua proposta de relatório — a que isenta os pequenos produtores da Amazônia dessas multas absurdas que têm sido aplicadas pelo IBAMA.

A maioria dos homens e mulheres que vivem hoje na Amazônia estão inadimplentes. Os homens estão acabrunhados com o tamanho da dívida que têm nas costas e não conseguem pagá-la. Mesmo que consigam vender sua pequena propriedade, não conseguem arrecadar o dinheiro, tamanho o número de multas que têm nas costas.

O pequeno produtor sequer tem condições de pagar um advogado para interpretar a legislação atual depois de tantos decretos que saem da Casa Civil, da Presidência República ou do Ministério do Meio Ambiente. Não sabemos nem quantas leis são hoje acerca da legislação ambiental.

O pequeno produtor da Amazônia não tem dinheiro para pagar consultoria, para legalizar sua situação e garantir o cumprimento da legislação ambiental de hoje. Isso é um crime contra quem mora na Amazônia, colegas Parlamentares presentes.

Acho um crime tão grande deixarem soltos os assassinos da Irmã Dorothy, aqueles que desbastaram a floresta do Pará, mas botar na cadeia o pequeno produtor da Amazônia, que derrubou uma árvore para construir a casa de uma filha que vai se casar, por ter cometido um crime ambiental?

Então, como estamos tratando o grande, aquele que consegue se defender, que tem condições de ir ao banco solicitar financiamento, de pagar consultorias, de pagar advogados? Estamos tratando-o com a mesma régua e com a mesma medição como tratam aqueles pequenos coitados da Amazônia?

Portanto, Sr. Presidente, como defensora da Amazônia, como defensora das florestas, defendo a necessidade de esta Casa votar o Código Florestal, porque é importante para o desenvolvimento do Brasil.

Somos o único país no mundo em que se discute proteção de floresta, porque podemos bater no peito e dizer: sim, nós temos floresta. Os outros é que não têm e ficam tentando colocar moral na casa alheia.

Muito obrigada, Sr. Presidente. (Palmas nas galerias.)"

Clique aqui e guarde para as próximas eleições a lista de quem votou contra e a favor das florestas brasileiras. Do Acre, apenas Sibá Machado (PT) votou a favor.



fonte: blog do Altino Machado

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