sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Battisti deve passar Ano Novo na prisão, diz Ministério da Justiça

Decisão de Lula será comunicada ao STF só após publicação no Diário Oficial.
Segundo assessoria, libertação depende de posicionamento do Supremo.

Nathalia Passarinho e Robson Bonin Do G1, em Brasília
O ex-ativista de esquerda Cesare Battisti deve passar o Ano Novo na prisão apesar da decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de negar a extradição dele para a Itália. Segundo a assessoria do Ministério da Justiça, a libertação do italiano ainda depende de um posicionamento do Supremo Tribunal Federal sobre os efeitos da decisão de Lula.
Parlamentares e Cesare BattistiParlamentares durante visita a Cesare Battisti no Compleoxo Penitenciário da Papuda, em Brasília, em novembro do ano passado  (Foto: José Cruz/Ag. Brasil)
Para isso, o Ministério da Justiça precisa encaminhar oficialmente à corte o despacho do presidente, o que só vai ocorrer a partir da próxima segunda-feira (3), quando a decisão de Lula será publicada no Diário Oficial da União.
Depois de ser comunicado, o STF decidirá se emite um alvará de soltura a favor do italiano. Como o Judiciário está de recesso, o presidente da corte, Cesar Peluzo, poderá definir o caso de forma monocrática. Se Peluso decidir submeter o caso ao plenário do STF, a libertação de Battisti, se aprovada, ocorrerá apenas em fevereiro, quando os ministros retornam das férias.
De acordo com a assessoria, o ministério deve aguardar a manifestação do STF para executar a libertação de Battisti.
Não é unânime, no entanto, o posicionamento de que o Executivo deve aguardar uma nova manifestação do Supremo. Para o advogado de Battisti, Luís Roberto Barroso, a decisão de soltar o italiano pode ser executada imediatamente, sem que o STF reveja a questão. Segundo ele, o alvará de soltura pode ser expedido pelo próprio ministro da Justiça.

“A própria decisão do STF, por cinco votos a quatro, assegurou a prerrogativa de o presidente Lula dar a palavra final. Quatro Ministros entenderam que era uma competência política — isto é, totalmente discricionária — e o quinto — o Ministro Eros Grau — entendeu que a decisão era política, mas tinha que se basear no tratado de extradição com a Itália. Em seu voto, o ministro Eros, inclusive, mencionou o dispositivo do tratado que o presidente poderia invocar, afirmando que, nessa hipótese, sua decisão seria insuscetível de reapreciação pelo STF. Pois bem: o presidente Lula baseou sua decisão precisamente no voto do ministro Eros. Logo, não há nada a ser revisto pelo STF”, explicou o advogado.
Exprimo minha profunda amargura e desgosto em relação à decisão do presidente Lula de recusar a extradição de Cesare Battisti apesar das requisições insistentes e das solicitações em todos os níveis por parte da Itália. Trata-se de uma escolha contrária ao mais elementar senso de justiça"
Silvio Berlusconi, primeiro-ministro italiano, em nota
O ministro do Supremo Marco Aurélio Melo também afirmou que Battisti pode ser liberado imediatamente. “A prisão de Battisti foi implementada pelo Supremo para viabilizar a extradição, após a decisão da corte, que foi simplesmente declaratória, de validar o pedido de extradição do governo italiano. A partir do momento em que essa extradição foi revogada, não há mais motivo para que ele permaneça preso", disse o ministro.
Reação da Itália
O advogado do governo italiano, Nabor Bulhões, afirmou que vai recorrer no STF da decisão tomada por Lula. Para Bulhões, a soltura de Battisti ainda pode ser negada pelo Supremo.

“O caso não acaba por aqui. Posso dizer que tenho mais de duas medidas jurídicas relevantes para contestar a decisão do Executivo. A Itália vai ingressar com recurso no STF. Quem pode deliberar sobre efeitos de decisão do presidente em matéria de soltura e extradição de estrangeiro é o Judiciário, o STF”, destacou.
O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, afirmou, em nota, que a decisão é contrária ao mais elementar senso de justiça". "Exprimo minha profunda amargura e desgosto em relação à decisão do presidente Lula de recusar a extradição de Cesare Battisti apesar das requisições insistentes e das solicitações em todos os níveis por parte da Itália. Trata-se de uma escolha contrária ao mais elementar senso de justiça", disse.

Reação de Battisti
Preso em uma ala especial do Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, com direito a televisão e rádio, Battisti acompanhou em tempo real o anúncio da decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de não extraditá-lo para a Itália.
O G1 apurou que ele não esboçou reação ao saber que ficaria no Brasil. Nenhum preso cumprimentou o italiano pela decisão de Lula. “Não houve festa. Ninguém gritou ou abraçou ele”, relatou um funcionário do presídio.
A decisão de negar a extradição do ativista de esquerda foi anunciada por volta de 10h desta sexta, pelo ministro das Relações Exteriores, chanceler Celso Amorim.

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