sábado, 7 de junho de 2014

Pré-candidato do PCB à Presidência defende fim da PM e ação de black blocs em protesto


Mauro Luís Iasi, 54, é o pré-candidato do PCB (Partido Comunista Brasileiro) à Presidência da República nas eleições de outubro. Avesso a costuras políticas, o professor da Escola de Serviço Social da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) afirmou ter consciência das limitações de sua campanha, mas disse não abrir mão de compor uma alternativa socialista em um cenário eleitoral que, segundo ele, resume-se a "aspectos superficiais". AoUOL, ele declarou ainda ter abraçado bandeiras das manifestações que eclodiram em junho de 2013 e argumentou em favor de temas como o fim da Polícia Militar e a ação dos black blocs, entre outros.

Iasi, que participou da fundação do PT, na década de 80, integrou o time que coordenou a primeira campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, em 1989, quando o ex-presidente e símbolo do Partido dos Trabalhadores duelou com Fernando Collor de Melo. "Eu tenho experiência de fazer campanha, um pouco contra a minha vontade", disse ele, que deixou o PT em 2004. "Nós atuávamos desde o marketing até o planejamento da campanha. (...) era um esforço monumental para apresentar o Lula não do jeito que ele era, mas sim para fazer com que ele parecesse um candidato. Isso em questões mínimas, como a forma de se colocar. A grande força dele era a autenticidade".

Apesar de ter acumulado experiência com as campanhas petistas, o pré-candidato comunista disse querer se distanciar da metodologia eleitoral que norteia as grandes legendas. Sua candidatura será divulgada basicamente com atividades nas ruas, o que inclui ir às manifestações. "Nossa campanha é coletiva, fizemos um processo de quase um ano de congressos. (...) A decisão por uma candidatura vem diretamente ligada ao fato de que a conjuntura brasileira não pode limitar às alternativas que hoje estão colocadas no que chamamos de campo da ordem. São candidaturas que, no máximo, divergem sobre aspectos superficiais, mas não a fundo em questões que consideramos prioritárias hoje para o Brasil", declarou.

As questões "prioritárias", na visão do pré-candidato, estão diretamente vinculadas às pautas que emergiram dos protestos. "As manifestações expressaram, ao contrário do que muitos disseram, uma politização do debate. Elas trouxeram temas importantíssimos para o debate de fundo da sociedade brasileira. (...) O que surgiu nas manifestações tem que ganhar uma densidade de um projeto político e um projeto alternativo para o Brasil", afirmou. "Um projeto de poder. Isso dificilmente brota da própria manifestação. Isso exige um segundo grau de luta."

UOL entrevista Mauro Iasi - 5 vídeos 


Iasi destacou que, em sua perspectiva, o "aparato repressivo" do Estado tentou conter o ímpeto das manifestações, mas isso não funcionou. "A repressão acabou levando a uma radicalização das manifestações, e elas se generalizaram. Isso provocou formas de autodefesa. Desde o início, nós tomamos muito cuidado para não criminalizar e condenar essas formas de autodefesa", disse. "Mesmo aquelas praticadas pelos chamados grupos adeptos de uma tática black bloc. (...) Somos obrigados a sofrer uma repressão brutal do aparelho policial, de forma muitas vezes ilegal, extremamente ilícita, forjando provas e tudo mais, em uma violência totalmente descabida. Todo mundo viu isso ocorrer nas manifestações."

Para o comunista, o "limite" da ação dos black blocs é outro. "É necessário que se transforme em uma alternativa real de poder. A mera ação performática contra a ordem encontra um limite. A ordem pode incorporar isso e neutralizar", explicou. No entanto, Iasi disse acreditar que as "várias intencionalidades" dos adeptos da tática black bloc, em todo o Brasil, podem "gerar problemas para as próprias manifestações". "As manifestações têm um apelo meio quixotesco. O apelo de uma juventude que enfrenta bravamente os seus adversários, mas é preciso nessa hora mais do que a ousadia. É preciso da forma dessa ousadia em uma perspectiva radicalmente anticapitalista, radicalmente socialista e isso a gente só vai fazer se conseguir que essas manifestações consigam consolidar uma alternativa real de poder", completou.

Questionado sobre o debate acerca da proposta de desmilitarização da polícia, que também se tornou pauta na onda de protestos, o professor universitário disse que é preciso ir além. "Hoje não basta nem sequer a desmilitarização da Polícia Militar. Somos favoráveis à desmilitarização, mas achamos que isso é insuficiente. É necessário hoje acabar com essa corporação", afirmou. "É necessário acabar com a Polícia Militar e pensar em uma nova forma de segurança pública que não passe pela prioridade da repressão por um corpo especializado em reprimir, e que nitidamente perdeu o controle de qualquer autoridade civil e de qualquer autoridade governamental, ganhando uma vida própria que culmina em práticas de extermínio. Essa corporação não pode ter lugar em uma sociedade minimamente civilizada como a gente imagina."

UOL

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