sexta-feira, 9 de maio de 2014

ACRE: Após 50 anos, Aleac anula cassação de ex-governador José Augusto


Cinquenta anos após apoiar o golpe que levou à renúncia e posteriormente à cassação do então governador do Acre, José Augusto de Araújo, a Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) "devolveu" o mandato do chefe de estado, falecido em 1971 por problemas de coração. Uma sessão solene foi realizada, nesta quinta-feira (8), na casa legislativa para homologar o ato simbólico.

Emocionada, a viúva de José Augusto, Maria Lúcia disse que a devolução do mandato é dedicada ao povo acreano. "A devolução desse mandato não é para ele, pois ele está em um lugar muito bom, é para o povo. Pois foi o povo acreano que o elegeu e o colocou lá em cima com a esperança de que dele fizesse muita coisa boa pelo Acre. Mas, infelizmente, veio o golpe e não podemos fazer nada", desabafa.

Apenas 13 dos 24 deputados participaram da sessão, já que uma parte deles está em Brasília . A proposta foi do deputado Eduardo Farias (PC do B). O consenso geral entre os parlamentares era que de o ato foi realizado para a reparação de um erro histórico. No momento em que a declaração de vacância do cargo de governo, aprovada há 50 anos, foi anulada os parlamentares aplaudiram.


Contexto histórico - Primeiro governador eleito democraticamente após a elevação do território do Acre a categoria de estado em 1962, o cruzeirense José Augusto de Araújo não teve muito tempo para administrar o estado.

Enfrentando a oposição até mesmo de correligionários do PTB, por suas ideias, consideradas "liberais" demais para os padrões da época e seu apoio às reformas pretendidas pelo presidente João Goulart, que em novembro de 2013, também teve anulada a sessão que o cassou . Araújo acabou sendo um dos primeiros administradores depostos pelo Regime Militar que vinha sendo instaurado no Brasil, desde o dia 31 de março de 1964.

Com o golpe, os opositores do governador acreano passaram a denunciá-lo aos militares como "subversivo" e "comunista". A situação foi se tornando insustentável, até que no dia 8 de maio de 1964, José Augusto foi forçado a renunciar pelo comandante da 4ª Companhia Militar, capitão Edgar Pedreira de Cerqueira Filho, durante o episódio que ficou conhecido como "Cerco ao Palácio".

Comandados por Cerqueira, os militares cercaram o Palácio Rio Branco exigindo que Araújo renunciasse ou iriam invadir o local. Em entrevista ao G1, em março de 2014, a ex-primeira-dama do estado, Maria Lúcia de Araújo, viúva de José Augusto, contou que aliados do governador ainda tentaram convencê-lo a resistir. Porém, temendo um massacre, ele preferiu acatar as ordens dos militares.

“Naquele tempo tínhamos a guarda territorial, eram poucos homens e que não podiam nunca confrontar o pessoal do exército com metralhadoras, quando o estado não tinha nem arma para revidar. Aí, ele disse: ‘vai correr sangue, então, para que lutar?’. Aí resolveu renunciar”, lembra a viúva.

No entanto, para mostrar que estava sendo obrigado a tomar a decisão, o governador assinou o documento utilizando apenas suas iniciais, ao invés de sua assinatura tradicional.

Perseguição - A renúncia de José Augusto não foi o suficiente para o capitão Cerqueira, que obrigou-o a deixar o estado com a esposa. Ao voltar ao Acre, um ano depois para responder a um inquérito por subversão, Araújo acabou preso durante sete meses, mas como sofria de problemas cardíacos ficou esse tempo internado no Hospital de Base de Rio Branco.

José Augusto conseguiu a liberdade através de um habeas corpus, em março de 1966 e voltou ao Rio de Janeiro. No mesmo ano, contudo, teve os direitos políticos cassados por 10 anos pelo Regime Militar.

No período em que viveu no Rio de Janeiro, o ex-governador foi ficando com a saúde cada vez mais debilitada, principalmente por causa dos processos que era obrigado a responder.Até que no dia 3 de abril de 1971, ele acabou falecendo no Hospital Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro.

Por Yuri Marcel
Do G1 AC

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