terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Minhas Raízes e a "boca cerrada" da estrada, Por Chagas Batista

O vice-prefeito de Tarauacá e presidente municipal do PCdoB, Chagas Batista, usou a rede social FACEBOOK para fazer um relato sobre sua infância. Batista postou uma foto (abaixo) contando sua história quando adolescente e do seus pais, no seringal Santa Maria, rio Tarauacá. O vice escreveu o relato, após retornar de uma ação de saúde realizada pela administração.



Meus pais nasceram em uma época em que imperava a lei dos coronéis de barranco.

O prestigio e a patente era comprada pelo dinheiro, o poder era avaliado pela quantidade de seringais e extensão de terras. Meu pai nasceu no rio murú, no seringal Paraíso, minha mãe no rio Tarauacá, seringal Redenção, Filhos de famílias humildes e respeitadas. 

Segundo minha mãe eu fui criado com todo cuidado, ela achava que eu iria orgulhar a família, quando ela saia de casa deixava a minha irmã mais velha (Nonata) cuidando de mim. Esses mimos não duraram muito tempo. Como não existia escola para estudar, fui escalado para dura tarefa.

Aos 6 anos de idade fui convocado para acompanhar meu irmão mais velho No corte da seringa. Meu irmão sofria crises epilépticas e não podia andar sozinho na floreta. Meu irmão era um homem trabalhador e destemido, não tinha medo de nada. Se não fosse o problema de saúde, não precisa de minha ajuda. Minha missão era carregar a espingarda e subir no "pé de burro" para tirar a tigela, em caso de crises e desmaios (meu do irmão) tinha que vir correndo avisar meu pai para pedir socorro. A peleja começava as 4: 00 hora da madrugada. Meu pai acordava para preparar a espingarda, os cartuchos, o balde, a faca de seringa, o saco encauchado e o pissoco de amarrar o saco. Minha mãe fazia o café e a farofa para o quebra jejum e me acordava para esfriar o corpo mudar a roupa e começar a viagem. Pequeno e ainda um pouco atordoado entrava na “boca da estrada” antes do dia amanhecer. 

O caminho era estreito e em pouco tempo minha roupa estava completamente molhada do orvalho, os pés arrebentados de topadas em tronqueiras e espinhos. Quando sol começava surgir e abrir raios no meio da floresta, minha roupa começava enxugar, o corpo começava a esquentar, os pássaros começavam a cantar, meu cansaço começava aliviar e a esperança de que mudo com menos sofrimento e opressão existia em algum lugar. O dia era corrido, um rodo (uma volta) na estrada para o corte da seringa, uma parada rápida no fecho para comer uma farofa de ovos ou uma Jacuba (farinha com sal e água) e uma nova correria para colher e não deixar a chuva tomar o leite. O chegada em casa só acontecia pelas 4;00 horas da tarde, mas ainda não era hora do descanso. Era preciso pegar um paneiro de cipó voltar para o mato para juntar cocos para defumar o leite. A noite chegava o descanso, mas a preocupação do dia seguinte já trazia o cansaço de volta. 

Postado por Chagas Batista

Nenhum comentário:

Postar um comentário