sábado, 3 de outubro de 2015

Tarauacá: A origem do Novenário de São Francisco. “A Novena Francisca iniciou pela devoção de Raimundo Eustáquio de Moura ao santo”.


José Higino de Sousa Filho – história de Tarauacá- extraído do livro a Luta Contra os Astros. 

O novenário de São Francisco em Tarauacá teve início no ano de 1927, na residência de seu fundador, Raimundo Eustáquio de Moura “o Mourinha do Arraial”, morador da colônia Marechal Hermes subúrbio da cidade - hoje bairro da Copacabana. Raimundo Moura era guarda-livros (a pessoa que anotava os débitos dos seringueiros) e, devoto do Santo, segundo ele dizia: Dever a própria vida, salva por milagre, por ocasião de um naufrágio, acontecido no rio Muru, durante o tempo em que morou no seringal. Com o decorrer dos anos, como aumentasse , cada vez mais , a afluência de devotos ao local, em 1933 Moura resolveu construir , no alto de um morro próximo, uma pequena capela, onde continuou a realizar , anualmente essas novenas, com a participação maciça, das pessoas da cidade, que, para lá, se deslocavam , em massa, logo ao anoitecer, bem como colonos e seringueiros , procedentes , às vezes , das mais distantes localidades, acontecendo que muitos devotos que ali compareciam o faziam com o objetivo de pagar suas promessas, em razão de graças alcançadas com o milagroso santo , sendo, neste aspecto, grande a quantidade de braços , cabeças e pernas , esculpidos em madeira ou outro tipo de material qualquer, trazidos pelos frequentadores e guardados num compartimento da referida capela, como forma de agradecimento a alguma cura acontecida.

 Em 1941, com a mudança de Moura para cidade, o ato religioso, que já havia sido incorporado as atividades da paróquia de São José, por decisão desta foi, para aí, igualmente transferida, coisa aliás, com a qual Moura jamais concordou, uma vez que fazia parte de seus planos , a construção , no antigo local, de uma Igreja de maiores proporções , já tendo, inclusive, lançado, em 1940 , a pedra fundamental da obra, em cerimônia presidida pelo próprio Bispo D. Henrique Ritter. 


Nota: Raimundo Eustáquio de Moura não foi apenas um religioso, devoto de São Francisco,além de guarda-livros mas, sobretudo, um empreendedor e idealista, havendo sido um dos primeiros a desenvolver, no município , uma indústria de olaria. Em 1932, juntamente com o Dr. Custódio Freire , fundou o Jornal “ Operário Acreano” e, durante muitos anos, foi presidente do centro operário de Tarauacá. Seu grande sonho era a construção de casas populares com produtos de sua olaria, para serem vendidas em prestações módicas a população menos favorecidas. Era casado com a professora Liberalina Leite Moura, respeitável figura do magistério taraucaense, ao qual dedicou maior parte de sua vida, havendo desempenhado importante papel na concretização do ideal religioso do marido. Dos três filhos do casal , um- o ex-integrante da guarda do território João Marques Leite Moura- já falecido, enquanto as filhas Inês e Celestina , residem em Rio Branco, a primeira casada com o comerciante Albeci da Silva Roque, e a segunda, viúva de Vilhebaldo Peres Mourão, que, em vida foi também comerciante. O neto de Raimundo Eustáquio, Nilson Mourão, é ex-deputado estadual e federal pelo PT acreano, atualmente secretário de direitos humanos do Estado. 

Leandro Matthaus Blog Tarauacá Agora Do livro A Luta Contra os Astros, de José Higino de Souza Filho, páginas 113, 114 e 119. Rio branco, Acre, 1994

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