sábado, 3 de outubro de 2015

“Brasil é um país dividido”, diz Marina em entrevista ao Valor Econômico

Marina Silva, ex-senadora e ex-ministra, duas vezes terceira colocada em eleições presidenciais, é formalmente uma simples filiada à Rede Sustentabilidade, o 34º partido a ser registrado, na semana passada, pelo Tribunal Superior Eleitoral. A nova sigla, que usará o número “18” nas urnas no próximo ano, não tem um presidente oficial, mas Marina é o principal vetor para a legenda já contar com um senador e cinco deputados federais, e candidata presidencial quase certa em 2018.

Nesta entrevista ao Valor Pro, serviço de informação em tempo real do Valor, Marina estava acompanhada de seu assessor direto Carlos Vicente e de Bazileu Margarido, um dos porta-vozes credenciados pelo novo partido. Durante a conversa, Margarido disse que, caso tivesse sido eleita no ano passado, Marina teria credibilidade para propor um ajuste fiscal menos drástico que o tentado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, porque já em seu programa de governo havia alertado para diversos desacertos da política econômica feita entre 2011 e 2014.

Marina disse que o Brasil hoje é um país cindido e que as votações que obteve nas duas últimas eleições presidenciais (19% em 2010 e 21% em 2014) mostram que este patamar é o piso, e não o teto para uma terceira via entre o PT e o PSDB na disputa pelo poder. O projeto petista se enfraqueceu, em sua visão, quando as políticas de inclusão social passaram a não se integrar mais com a manutenção dos fundamentos da economia, o que teria começado a ocorrer a partir de 2008.

A estruturação do governo a partir da divisão de espaços para partidos, setores e lideranças na Esplanada dos Ministérios é um traço comum dos governos tucanos e petistas e está na raiz da crise de governabilidade atual. Mudar este princípio de construção do governo, na visão de Marina Silva, é a razão maior pela qual o eleitorado pode procurar um caminho alternativo.

Marina vê uma presidente Dilma Rousseff isolada, que não dispõe mais de uma cota pessoal no ministério que arquiteta. Diz que a presidente sofre mais com a ameaça interna, com as cobranças dentro do PT por mudanças na política econômica, do que com a externa, capitaneada pelas oposições. Procura demarcar distância em relação ao impeachment. A seguir trechos da entrevista concedida ao Valor PRO:


Valor: Qual consequência podemos ter na maneira de empreender no Brasil como decorrência do escândalo da Operação Lava-Jato?

Marina Silva: Ainda temos uma longa jornada. Primeiro é preciso que as investigações possam acontecer com independência e rigor, para que, de fato, este seja um caminho sem volta. Que não reste dúvida nem para os agentes públicos, nem para os privados sobre o fim da impunidade, o que pode levar a mudanças estruturais para prevenir e combater a corrupção. Tudo depende desse esforço exemplar que está sendo feito. A mudança de postura vai acontecer quando não restar nenhuma dúvida que as instituições brasileiras estão preparadas para não deixar a corrupção passar nas malhas da justiça e dos órgãos de controle. Boa parte dos problemas é pela expectativa de impunidade.

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