sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Filha de Chico Mendes: “Marina e meu pai fizeram revolução, mas voto em Dilma” por Altino Machado


Tecnóloga em gestão ambiental, Ângela Maria Feitosa Mendes, 44, é filha do primeiro casamento do líder sindical e ambientalista Chico Mendes, assassinado em dezembro de 1988 em Xapuri (AC). 

Angela Mendes é filiada ao PT, faz parte da assessoria parlamentar do senador Anibal Diniz (PT-AC), além de diretora Centro dos Trabalhadores da Amazônia (CT), em Rio Branco, que o pai dela ajudou a fundar em maio de 1983.

Veja a entrevista exclusiva ao Blog da Amazônia:

Você assistiu o primeiro debate dos presidenciáveis?

Assisti apenas a primeira parte do debate, no entanto estou sabendo da polêmica que envolveu o nome do meu pai quando Marina disse que ele é elite. Achei que ela apenas se expressou mal. Elite tem uma outra conotação. A Neca Setubal representa em parte tudo aquilo que meu pai combateu.

Ela também disse que os ianomami são elite.

Eu sei, eu entendo. Ela quis dizer que são elite porque se destacam em algum momento por aquilo que fazem, lutam e acreditam. Meu pai foi esse homem. Não entendo que ela quis denegrir a imagem do meu pai.

Circula na web um vídeo em que você manifesta apoio à reeleição da presidente Dilma. O que tem a dizer a respeito do vídeo?

O vídeo que está circulando foi gravado em 2010. Naquele ano, mesmo eu sendo petista, votei na Marina no primeiro turno eleitoral. Eu sou uma dos quase 20 milhões de eleitores dela naquele pleito. No segundo turno, votei na presidente Dilma e foi quando gravei aquele vídeo apoiando-a. Quatro anos depois, as coisas mudaram.

Vai votar em Marina no primeiro turno?

Filiada que sou ao PT, e por apoiar o projeto do partido, vou votar na Dilma. Mas não só por isso. Vou votar por uma questão de coerência. Apesar do respeito e do carinho que tenho pela Marina, não acho que neste momento ela conseguiria fazer o governo utópico dela. A melhor opção é Dilma, apesar de todos os problemas e pressões. Existe um Congresso que se une em bloco de ruralista ou evangélico, que querem se impor de qualquer forma. Apesar de todas as pressões, a Dilma ainda consegue avançar na política social e econômica, embora retraída na questão ambiental. Mas isso já está mudando, principalmente em relação ao modelo de energia para o país. Ela já fala em investir mais em energia solar e eólica. É um bom começo. Se a Dilma se aproximar dos movimentos socais e ambientais vai ser muito bom pra gente. Acho que o modelo que você sabe como quer chegar e sabe como chegar lá. Não me sinto segura com o modelo de política que Marina defende. Hoje, se não fosse do PT, não votaria nela como votei em 2010. Tudo nela me passa uma certa insegurança. Que ela queira transforma o mundo, o Brasil, é um sonho que eu compartilho. Mas como é que a gente vai fazer isso? Temos que ter metas e propostas definidas. Não é renegando essa democracia, a existência desses partidos políticos. A gente ainda não está preparado para isso.

O fato de Marina ter sido tão amiga de Chico Mendes não tranquila você?

Isso me faz respeitar Marina como pessoa, como mulher. Ninguém vai me ver desrespeitando-a. Marina e meu pai fizeram uma revolução. Respeito como uma acreana cuja trajetória superou muitas barreiras e preconceitos. Mas, para mim, isso não é suficiente para alçá-la ao cargo de presidente da República. As pessoas mudam. Naquela época, junto com meu pai, ela era um pessoa. Pode ser que hoje seja outra pessoa. Mas por ter sido amiga e companheira do meu pai, ela conta com todo meu carinho e respeito.

Como você tem acompanhado os ataques até racistas contra Marina nas redes sociais?

Tenho procurado me manter afastada disso porque não concordo que pessoas do meu partido partam para cima da Marina com desrespeito. Ela é uma mulher batalhadora, tem valores, enfrentou muitos sacrifícios na vida. Posso não concordar com a ideologia dela, mas não é por causa disso que vou xingá-la, desrespeitá-la. Não concordo, não gosto do que vejo, porque Marina foi amiga, companheira de meu pai.

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